Aulas de ioga na UFRJ podem parar por causa dos cortes na educação
Aliadas de estudantes que buscam conciliar as demandas da vida pessoal e acadêmica com corpo e mente em harmonia, as aulas de ioga oferecidas pela UFRJ correm o risco de serem suspensas por causa do bloqueio de recursos para as universidades anunciado pelo governo federal.
As práticas de ioga fazem parte do PEL (Programa Esporte e Lazer), que oferece atualmente 1.010 vagas em modalidades como ioga, dança, pilates, natação, futsal, corrida e ginástica artística, de forma gratuita, para estudantes de graduação e pós-graduação da universidade.
Segundo o Pró-Reitor de Políticas Estudantis da UFRJ, Luiz Felipe Cavalcanti, as aulas do programa estão garantidas até junho, mas a universidade terá que fazer uma “ginástica” para conseguir manter as atividades no segundo semestre. “Nosso compromisso é com a manutenção do máximo possível das atividades”, disse.
Para Cavalcanti, se os pilares da universidade pública são o ensino, a pesquisa e a extensão, é preciso lembrar que esses trabalhos são desenvolvidos por indivíduos que devem receber o suporte necessário para realizarem suas atividades com qualidade e para que a universidade possa, dessa forma, retribuir o investimento social.
“O Programa Esporte e Lazer foca nas pessoas. Trabalhamos para que os estudantes tenham uma melhor condição de permanecerem na universidade e entendemos que não é só recurso financeiro que permite isso. Possibilitar uma melhor condição de saúde aos nossos estudantes é uma questão central”, afirmou.
FORMAÇÃO INTEGRAL
A professora de ioga Vitória Bemvenuto, uma das responsáveis pela inclusão da prática de origem indiana entre as atividades do PEL em 2018, acompanhou de perto mudanças que as aulas trouxeram para a vida dos estudantes e relatou a experiência em seu trabalho de conclusão de curso da graduação em Educação Física.
Em conversa com o blog, Vitória diz ter percebido que o início da vida acadêmica representa uma mudança brusca na vida dos estudantes, com aumento de responsabilidades e de carga de trabalho, o que, para muitos deles, gera transtornos emocionais como ansiedade e depressão, podendo levar ao baixo rendimento e à evasão acadêmica.
Segundo a professora, a prática de ioga ajuda os estudantes que se veem sob constante pressão e falta de tempo a se sentirem mais presentes e conscientes de cada ação, reduzindo o risco de erros, poupando energia e melhorando a qualidade dos seus estudos e de sua produção.
“É importante que colaboremos para o bem-estar e o bem-viver desses estudantes, que são responsáveis por grandes mudanças no mundo. A universidade é berço de grandes potências”, disse.
Em sua pesquisa, Vitória observou que, por fazer parte de um sistema que trabalha o indivíduo de forma integral, as aulas de ioga colaboraram para o bem estar físico e emocional dos estudantes, deixando-os mais aptos a lidar com os desafios dessa etapa da vida.
“Algo de pessoal e essencial aconteceu, motivando mudanças de atitudes e pensamentos; adicionando novas ideias e olhares perante a vida e subtraindo ansiedades, pressões e desistências diante de novas possibilidades de se descobrir no mundo: partindo de suas experiências pessoais para transformação de seus entornos”, afirma na monografia.
Diante do risco de que as aulas sejam afetadas pelo bloqueio de recursos orçamentários, ela contabiliza prejuízos que vão além da saúde dos estudantes e seu rendimento acadêmico: “Todos são prejuízos imensos, mas acho que o que mais feriria a sociedade brasileira seria a diminuição de profissionais mais sensíveis, atentos, preocupados com a educação e que entendam que o ser humano é muito mais que resultados ou prazos: é potência divina”.