Shivão tira dúvidas (e sarro) sobre ioga nas redes sociais
Se um belo dia o grande Shiva, patrono da ioga, descesse das montanhas sagradas onde vive, nos Himalaias, para tirar suas dúvidas pelo WhatsApp, o que você perguntaria?
Por mais inusitado que pareça, Shivão tem sido visto nas redes sociais respondendo questões de praticantes de ioga que tentam levar uma vida iluminada, mas se veem todos os dias diante dos desafios impostos pela condição humana.
“Tem problema matar um mosquito quando estou praticando ioga?”; “Depois de três dias meditando, me estressei no trânsito e discuti no grupo da família, o que adiantou?”; “Ioga tira zica?”; “Qual o segredo da vida?”
Quem manda as perguntas é a Nic, e as conversas são publicadas no @Instadoshivao. Nic é Nicole Rodrigues, 45, professora de ioga com estúdio na Vila Madalena, em São Paulo. “O Shivão é o meu alter ego. Nasceu das minhas conversas comigo mesma, das minhas questões sobre ioga, a prática, a vida, o ser e estar no mundo”, disse ao blog.
Diferentemente do que se poderia esperar de uma deidade, Shivão não é piegas e responde com sarcasmo e humor. É descontraído, sem ser deselegante, ofensivo ou blasé. A ideia do personagem é trazer as discussões espirituais de um plano quase inatingível para a vida real dos reles mortais praticantes de ioga.
“Somos seres humanos que tentam meditar, mas que no dia a dia têm que lidar com as questões básicas da vida, como pagar aluguel, levar filho na escola, trabalhar, ter DR com o namorado ou namorada, seres humanos que sentem raiva, inveja, ciúmes… Muita coisa. O Shivão quer mostrar que está tudo bem, que ao praticar ioga ou ser um professor, você continua a ser humano, uma pessoa que tem que lidar com todas as questões da vida”, conta Nic.
Apesar do humor, Shivão tem seus momentos de reflexões filosóficas, baseadas não só nos textos de ioga, mas também do budismo e do cristianismo, e com frequentes referências a escritores e cantores, como Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Dorival Caymmi e Chet Baker –sempre trazendo para as questões da espiritualidade.
O personagem também gosta tirar sarro com os clichês tão frequentes no meio da ioga. “A espiritualidade está banalizada e as pessoas estão muito necessitadas de gurus. Às vezes, a gente cria a máscara da espiritualidade, mas no fundo continua a ser apenas a mesma pessoa de antes. O discurso continua longe das atitudes. Mas o Shivão, sendo muito bacana, entende isso, que somos humanos.”
O blog Namastê entrevistou Shivão com exclusividade, em uma pausa de seu estado de samadhi, mergulhado na consciência expandida. Leia a seguir trechos dessa conversa.
Blog Namastê: Shivão, às vezes você fala de um jeito meio debochado sobre ioga. Esses temas de espiritualidade não precisam ser levados a sério?
Shivão: Eu nunca faço deboche com ioga. Eu faço deboche só da Nic.
Existem muitos clichês repetidos entre praticantes de ioga. Frases de efeito ajudam ou atrapalham a entender essa filosofia de vida?
Uma filosofia de vida não é pra ser entendida, mas é pra ser vivenciada como cada um puder de acordo com sua história de vida e vocês que se virem por aí pra vivenciar isso, porque eu sei que a barra aí é pesada.
Já vi você falar sobre política, questões ambientais… Por aqui esses temas geram muita discórdia. Dá pra misturar espiritualidade e política numa boa?
Ficórsi [of course].
Muita gente acha que só uma prática física intensa tem efeito, mas você sempre fala de ioga fora do tapetinho… As pessoas confundem ioga com ginástica?
Ô.
Qual é a dúvida que você mais escuta dos seus seguidores?
Uma das maiores dúvidas é se sou homem ou mulher. O Shiva? A Shiva? Mas Deus não tem sexo. E nem eu.
Qual principal recomendação você daria pra quem quer levar uma vida de ioga?
Não existe vida de ioga. Existe vida.
Gratiluz!
Se você falar gratiluz novamente, tá tudo acabado entre nós.