O que diz a sua respiração?
Lá na Índia, ouvi dizer que a expectativa de vida de uma pessoa deve ser medida em quantidade de respirações em vez de anos do calendário solar. É como se cada indivíduo nascesse com um número pré-definido de ciclos respiratórios –quanto mais lentamente você inspira e expira, mais você poderia prolongar a duração do seu corpo.
Enquanto a ciência não se debruça sobre isso, uma coisa já sabemos: a respiração é um dos principais indicativos sobre nosso estado físico, mental e emocional. Basta ver como ela fica instável e acelerada quando estamos com raiva ou ansiosos e equilibrada e profunda se estamos tranquilos. Essa mudança acontece no hipotálamo, área do cérebro que traduz nossos sentimentos em sinais físicos.
Da mesma forma, podemos usar a respiração para interferir em como nos sentimos: ao prolongar a expiração, por exemplo, conseguimos facilitar o relaxamento. Ou intensificamos a inspiração se queremos nos sentir mais dispostos. Por isso dizemos que a respiração consciente permite a integração entre corpo e mente, o que faz dela uma parte indispensável da prática de ioga.
No dia a dia, costumamos respirar de forma automática e inconsciente. Mas quando trazemos a atenção para a respiração, conseguimos liberar a mente de assuntos passados e futuros e nos sentimos mais presentes e conscientes do que estamos fazendo.
Quando comecei a fazer ioga, eu não tinha muita ideia disso, tinha pouco controle sobre a minha respiração e dificilmente conseguia manter o foco sobre ela durante toda a aula. É algo que acontece com a maioria dos novos alunos, que faz os exercícios respiratórios porque alguém disse que tem que fazer e não necessariamente por ter algo de divertido naquilo.
Mas é interessante como, à medida que repetimos, começamos a ver que é justamente a respiração que nos faz perceber mais minuciosamente como nos sentimos nos asanas, as posturas físicas. Quando me dei conta, sentir o ar preenchendo cada parte do meu pulmão e espalhando energia pelo meu corpo tinha virado uma das partes mais interessantes da minha prática.
Por ser indicativo também do nosso estado físico, a respiração funciona ainda como uma espécie de termômetro que nos avisa sobre a qualidade de uma postura que estamos realizando. Como alertou T. K. V. Desikachar, no livro “O Coração do Yoga”: “Por mais lindamente que você consiga fazer um asana, por mais flexível que o seu corpo seja, se você não conquista a integração entre corpo, respiração e mente, não dá pra dizer que você esteja fazendo ioga”.
A tradição também relaciona a respiração consciente com o prana (energia vital), pranayamas (técnicas de direcionamento dessa energia), nadis (canais por onde ela circula) e os chakras (centros de energia no corpo). Mas aí já é tema para um próximo post…