Yoga, ioga, o yoga, a ioga, o ioga…

“Ioga é um estilo de vida.” “Yoga surgiu na Índia há mais de 5.000 anos.” “A ioga nos leva ao autoconhecimento.” “O yoga desenvolve o domínio sobre o corpo, a mente e as emoções.”

Ioga pra lá, yoga pra cá, e haja respiração profunda pra se entender nessa Torre de Babel. Afinal, o certo é ioga ou yoga? Feminino ou masculino? Com “o” aberto ou fechado?

Vamos começar do começo: a palavra tem origem no sânscrito, uma das línguas da Índia que é usada em um sistema de escrita diferente do nosso alfabeto latino, o chamado devanágari. Nesse sistema, ioga se escreve assim: योग.

Não ajudou muito, não é? Para que as pessoas que usam alfabetos diferentes possam se entender, existe a transliteração: uma forma de transcrever letras e fonemas de uma escrita para outra, seguindo determinadas convenções quando não existe correspondência direta (uma ferramenta de conversão pode ser encontrada neste site).

Existem várias convenções de transliteração do devanágari para o alfabeto latino. Dependendo da que for escolhida, योग vira yoga ou yōga, sempre com y. Mas aí começa a segunda parte da questão, que é a incorporação de palavras estrangeiras no português.

APORTUGUESAMENTO

Em tese, as letras k, w e y são empregadas em palavras derivadas de nomes próprios, como “kafkiano” (que vem de Kafka), “darwinismo” (derivado de Darwin) ou “taylorismo” (de Taylor).

Já os nomes comuns, em geral, sofrem o aportuguesamento, que é a adaptação à grafia e à pronúncia da língua portuguesa (embora k, w e y tenham voltado a ter uso oficial no português com o último Acordo Ortográfico). Por isso, “whisky” virou “uísque”, “shampoo” virou “xampu” e “yoga” virou “ioga” –cujo primeiro registro em português, segundo o dicionário “Houaiss”, foi em 1890.

A ortografia oficial da nossa língua está consolidada no Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), da Academia Brasileira de Letras, e agora, mais recentemente, também no VOC (Vocabulário Ortográfico Comum), da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

O primeiro registra apenas “ioga”, mas admite os dois gêneros (a ioga, o ioga). Já o segundo admite tanto “o yoga” (com “y” é sempre masculino) como “o/a ioga”. Aparentemente, nem os linguistas se entendem sobre isso, mas o fato é que as duas formas são consideradas corretas.

Uma das possibilidades é que a grafia “yoga” tenha sido admitida devido à alta frequência de uso no Brasil. Afinal, a língua é dinâmica e reflete os costumes de seus falantes.

Bem, pelo menos um consenso existe: nem ioga nem yoga levam acento, por causa das nossas regras de acentuação gráfica. Ufa! Moral da história? Tanto “o yoga” (com “o” fechado) como “o/a ioga” (com “o” fechado ou aberto) são admitidos na língua portuguesa.