namastê https://namaste.blogfolha.uol.com.br Vida de ioga no tapetinho e fora dele Wed, 19 Jun 2019 10:00:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Silenciar a mente é focar no pensador, diz professora de meditação https://namaste.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/silenciar-a-mente-e-focar-no-pensador-diz-professora-de-meditacao/ https://namaste.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/silenciar-a-mente-e-focar-no-pensador-diz-professora-de-meditacao/#respond Tue, 17 Jul 2018 17:31:29 +0000 https://namaste.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Gloria-3-150x150.png http://namaste.blogfolha.uol.com.br/?p=155 Ter uma vida meditativa não é algo que acontece só quando você está sentado de pernas cruzadas e olhos fechados. Na verdade, um dos desafios da meditação é justamente trazer o aprendizado da prática para as situações corriqueiras do dia a dia que poderiam gerar ansiedade, estresse ou tensão. Esse é um dos ensinamentos da professora Gloria Arieira, 65, uma experiente pesquisadora das tradições espirituais indianas.

Discípula do Swami Dayananda Saraswati (1930-2015), com quem estudou na Índia, e mestre de alguns dos mais disputados professores de ioga do Rio de Janeiro, Gloria é fundadora de um centro de estudos onde ensina diferentes disciplinas, como meditação, sânscrito, ioga sutras (texto clássico da filosofia iogue) e vedanta (um dos sistemas filosóficos indianos). Também mantém um podcast sobre meditação, disponível em plataformas como iTunes e SoundCloud.

“O início da meditação é basicamente lidar com nossas emoções e aprender a gerenciá-las. Não existe emoção inadequada porque a gente não tem escolha das emoções. Elas ocorrem na nossa mente por uma ordem psicológica e cósmica, não pela nossa responsabilidade. Nossa responsabilidade é exclusivamente e totalmente na ação, que pode ser física, oral ou mental”, explica Gloria em um dos episódios do podcast.

“Por exemplo, temos escolha em, tendo ciúme, dar continuidade a ele. Posso fazer uma ação mental de alimentar minha raiva ou de quebrá-la e dizer: ‘não, talvez não seja assim tão sério, deve ter uma boa razão, vamos esperar pra ver’. Então temos como equilibrar na nossa mente a emoção que veio fazendo um esforço, que é a ação.”

Com olhar sereno e expressão inabalável, quase sempre acompanhados por uma longa trança grisalha e gestos precisos, a professora prende a atenção dos alunos trazendo os ensinamentos tradicionais indianos para o mundo ocidental contemporâneo, unindo ritualismo e descontração, invocando respeito e estimulando bom humor.

Foi a ela que recorri para dar continuidade ao tema do post anterior, onde falamos sobre como incluir a meditação em uma rotina diária. Quando começamos a meditar com regularidade, muitas dúvidas costumam surgir. Por isso, escolhi algumas das questões que ouço com mais frequência para que a professora Gloria nos ajude a entender melhor esse processo. Leia a seguir trechos da entrevista.

Gloria Arieira
Gloria Arieira é fundadora do centro de estudos Vidya Mandir, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/Vidya Mandir)

Blog Namastê: Várias técnicas diferentes podem ser usadas para a meditação: transcendental, vipassana, zazen, foco na respiração, repetição de um mantra… Todas levam ao mesmo destino?
Gloria Arieira: Existem dois tipos básicos de meditação dentro do estudo de vedanta, a parte final dos Vedas [escrituras indianas]. Um tipo tem como objetivo aquietar a mente e aprender a focar; outro é a contemplação sobre a natureza do “eu”, que acompanha o estudo dos textos de vedanta.

Todas as meditações mencionadas acima têm como objetivo lidar com a mente e gerenciá-la melhor. E todas elas conseguem de alguma forma alcançar este objetivo duplo, de acalmar e focar. Aqui estamos lidando com a mente.

O outro tipo de meditação não lida com a mente, mas com um entendimento mais profundo sobre o “eu” e necessariamente acompanha um estudo com um professor ou professora.

Quais são os principais benefícios da prática regular de meditação?
O principal objetivo é poder estar consigo mesmo, só, e estar bem. Descobrir a paz que pertence à pessoa, que não é produzida por nada. É entender sua mente e aprender a lidar com ela. É ter uma mente meditativa, que tem a capacidade de autorreflexão. Afinal, a mente é um instrumento de percepção, de conhecimento, para viver plenamente e feliz.

Gloria Arieira e Swami Dayananda
Gloria Arieira e seu mestre, Swami Dayananda (Foto: Divulgação/Vidya Mandir)

Meditar não é simplesmente fechar os olhos e interromper os pensamentos. O que é preciso para que a meditação aconteça?
A meditação sempre inclui um meditador, um objeto meditado e o ato de meditar. Para conseguir meditar, a pessoa deve ter claro o que quer alcançar com a meditação, qual seu objetivo. Pode ser entender sua mente, aquietá-la momentaneamente, esquecer os problemas, conectar-se com algo maior ou descobrir a verdade de quem você é.

E como é possível começar a meditar, na prática?
Depois de estabelecer seu objetivo, ver qual o tipo de meditação que você pretende usar e conduzir a sua mente à meditação, a estar confortável com a pessoa que você é e capaz que estar objetivamente no momento presente.

Começar com uma forma de meditação que aquiete a mente e que, a seguir, possa levar a descobrir a paz que é a sua natureza. Esse é o mais simples método. Mas se faz necessário poder contar com uma pessoa que nos possa orientar. A mente é o que temos de mais precioso. Ela pode nos levar ao desespero ou à maior felicidade. Uma boa, sólida e confiável orientação fará toda a diferença.

Muitas pessoas sentem dificuldade porque não conseguem “silenciar” a mente. Que recomendação a senhora daria?
A mente é o assento de nossas percepções, nossas emoções, nossos entendimentos. Percepções, emoções, entendimentos estão sempre presentes e podem agitar a mente. Silenciar é não focar no objeto do pensamento, mas no pensador; olhar para o pensamento como um objeto. Por exemplo, não somente ter raiva e expressá-la, mas olhar para ela vendo sua natureza e força, acolhê-la e dar a melhor forma possível a ela.

Meditar é bom que seja feito com a orientação de alguém que já medita. A mente deve descobrir o prazer que é meditar, e não ser forçada a fazer algo que ela não tem verdadeiro interesse.

Eu diria que, para começar, a pessoa pode se sentar todos os dias, por dez minutos. Observar seu corpo sentado, observar sua respiração e cantar um mantra, ou uma frase significativa, como “eu sou a paz”, 11 vezes. Antes de fechar os olhos, tentar perceber como se sente e somente registrar o que sente; se quiser, depois pode pensar mais sobre o que o preocupa, de olhos abertos [não durante a meditação].

 

Gloria Arieira
Gloria Arieira em aula sobre ioga sutras no Vidya Mandir, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/Vidya Mandir)

No seu podcast, a senhora destaca a importância da meditação como ferramenta para gerenciar as emoções. Como silenciar a mente pode ajudar nisso?
Temos que entender que temos uma única mente. A mente que vive o dia a dia é a mesma que tenta meditar. Se a mente é sempre agitada, dispersa e desconhecida da própria pessoa, como ela poderá se aquietar num momento restrito do dia designado à meditação?!

As emoções são naturais e inevitáveis, são o que nos faz humanos. Mas temos que reconhecer as nossas emoções e acolhê-las com objetividade pelo que são, sem tentar mudá-las. Qualquer verdadeira mudança nasce de entendimento.

Silenciar a mente é consequência da vida meditativa. A mente se faz meditativa, e naturalmente medita, se a pessoa é atenta à sua mente. Meditar requer mais do que um momento do dia, requer que a vida da pessoa seja meditativa, consciente, o que não quer dizer nem controle, nem rigor.

Na semana passada, vimos que a meditação ajudou as crianças presas em uma caverna na Tailândia a enfrentarem aquela situação. Como a meditação também pode nos ajudar a sair das “cavernas” da nossa mente?
A caverna é um lugar escuro. A escuridão é o grande problema do ser humano: a ignorância sobre si mesmo e a consequente confusão e ilusão. Ao jogar luz em nossa mente, entendendo e acolhendo como ela é, conseguimos aprender a lidar com ela de forma clara e efetiva.

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Saia de suas cavernas mentais: como incluir a meditação na rotina https://namaste.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/saia-de-suas-cavernas-mentais-como-incluir-a-meditacao-na-rotina/ https://namaste.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/saia-de-suas-cavernas-mentais-como-incluir-a-meditacao-na-rotina/#respond Sat, 14 Jul 2018 13:36:51 +0000 https://namaste.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/caverna-tailândia-150x150.jpg http://namaste.blogfolha.uol.com.br/?p=136 Muita gente ficou sem fôlego nesta semana ao acompanhar o resgate dos 12 meninos e do técnico de futebol que passaram duas semanas presos em uma caverna na Tailândia. Um dos fatos que despertou curiosidade foi como as técnicas de meditação ensinadas às crianças pelo treinador, um ex-monge budista, ajudaram a controlar a ansiedade delas em uma situação extrema como aquela.

Em algumas correntes filosóficas ou espirituais, como na ioga, a meditação é um caminho para se atingir um estado mais elevado de consciência sobre o ser e sobre o universo. Neste caso, o estudo e a orientação de alguém mais experiente são fundamentais.

Mas também é possível usar técnicas meditativas para trazer mais clareza mental para o seu dia a dia. Isso ajuda a conhecer melhor como funciona sua mente, o que traz uma série de benefícios: redução da ansiedade, melhor gerenciamento das emoções, capacidade de sentir-se em paz independentemente das circunstâncias externas, mais habilidade de concentração, melhora do humor, entre outros.

Se você tem vontade de meditar, mas ainda não sabe como incluir essa prática na sua rotina, veja algumas dicas que têm funcionado comigo e experimente você mesmo. Que tal fazer um teste na próxima semana? Depois volte aqui e conte nos comentários como foi a experiência.

FORÇA DO HÁBITO

Antes de tudo, pense em criar o hábito: escolha um lugar e horário para meditar todos os dias. Manter uma rotina ajuda a mente a entrar no estado meditativo quando a hora se aproximar. Procure um local silencioso para evitar distrações.

Você pode incluir no ambiente objetos que lhe inspirem: um incenso, uma vela, elementos da natureza, uma imagem que tenha significado para você. É importante que este seja um momento prazeroso para que sua mente queira voltar a meditar.

Regularidade é mais importante do que quantidade. Não adianta meditar meia hora em um dia, e no outro não praticar. Começar com 10 minutos por dia é suficiente. Depois de um mês, você já deve começar a sentir os efeitos.

Os textos tradicionais dizem que o melhor momento para meditar é antes do nascer do sol, quando o fluxo de atividades mentais ainda está baixo. Se não for possível acordar tão cedo, escolha um horário em que consiga manter a regularidade. De preferência, pela manhã. Outros horários recomendados são ao pôr-do-sol e ao meio-dia.

Sente-se em uma postura confortável, com a coluna ereta. Não precisa necessariamente cruzar as pernas em lótus e pode inclusive usar uma almofada, apoiar as costas ou se sentar em uma cadeira. Se a postura for desconfortável, sua atenção vai ser desviada para a dor e dificilmente você vai conseguir se concentrar por muito tempo.

Evite meditar deitado ou no ambiente onde você dorme. Se a mente ainda não está acostumada, quando você reduzir a intensidade dos pensamentos terá mais chance de pegar no sono.

Ao fechar os olhos, observe seu corpo e tente eliminar qualquer tensão física. Quando se sentir pronto, escolha o objeto da sua meditação: pode ser a respiração, um mantra, uma parte do corpo, um elemento da natureza, a própria mente… O ideal é escolher uma técnica e usá-la todos os dias, por algum período, para poder sentir os efeitos.

Procure manter toda sua atenção concentrada neste objeto. Por exemplo, observe como o ar que entra pelas narinas é levemente mais frio do que o ar que sai. Se vierem ideias, memórias ou sentimentos, simplesmente observe-os sem interferir, espere eles passarem e volte a se concentrar. É muito comum que os pensamentos voltem. Não lute contra eles, não se julgue nem desanime.

Se sentir vontade de se mexer ou se coçar, primeiro tente ignorar. Talvez seja apenas porque você não está acostumado a ficar parado. Se a vontade persistir, mexa, coce e volte a se aquietar quantas vezes for necessário. Não adianta brigar contra sua vontade, isso vai desviar o foco da sua atenção.

No início, é normal sentir desconforto. Manter uma atividade física regular ajuda a conseguir ficar parado por mais tempo sem sentir dores. Praticar posturas de ioga também é uma forma de preparar o corpo e a mente para a meditação e, se puder fazer antes da sua prática meditativa, melhor ainda.

Com o tempo, fica cada vez mais fácil, mas o desenvolvimento não é sempre em uma linha ascendente. Nenhuma experiência é igual a outra. Aproveite o momento para conhecer melhor sua mente e aplique essa clareza mental também no seu dia, mesmo de olhos abertos. Aos poucos, você começará a identificar mais facilmente as saídas das suas cavernas mentais.

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